quinta-feira, 17 de março de 2011

CAETANO VELOSO E A VINGANÇA DO BREGA

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CAETANO VELOSO E A VINGANÇA DO BREGA


         Caetano Veloso, ou Caetano Emanuel Viana Telles Veloso, um baiano natural de Santo Amaro da Purificação no recôncavo, é quase uma unanimidade no cenário artístico nacional e internacional. Embora tenha feito incursões em outras áreas da expressão artística, como cinema e literatura, destacou-se principalmente como compositor e intérprete da boa MPB, onde sempre foi vanguarda desde o final da década de 60, quando estourou com Alegria, Alegria, no Festival da Record de 1967. A música foi, juntamente com Domingo no Parque, de Gilberto Gil, a expressão e a síntese do Tropicalismo, um movimento musical fundamentado filosoficamente na antropofagia (fusão de elementos da cultura estrangeira com a brasileira) de Oswald de Andrade.
         Caetano, tido como um erudito em suas criações, sempre teve um público seleto e fiel. E apesar das suas composições poeticamente incomparáveis e únicas, quase todas verdadeiras obras primas, a sua vendagem sempre foi baixa em relação ao seu talento. Principalmente se comparada com outras expressões de talento duvidoso e vendagens astronômicas, tão comuns no meio musical. 
         Em 1999 Caetano gravou Sozinho, de Peninha (Aroldo Alves Sobrinho), um cantor romântico paulista rotulado de brega. A música virou tema da telenovela Suave Veneno da TV Globo, e garantiu a venda de mais de um milhão e quatrocentas mil cópias do disco Prenda Minha. A vendagem expressiva garantiu-lhe também um inesperado Disco de Diamante, e constituiu-se em algo inimaginável para os seus discos, um tanto quanto clássicos e nem um pouco comerciais. Embora já tivesse gravado Sonhos, do mesmo compositor em 1982, foi mesmo com Sozinho que Caetano conquistou finalmente o grande público
          A partir de então, o moço tomou gosto pela coisa. E gravou mais compositores enquadrados pela mídia na depreciativa categoria de bregas, como Fernando Mendes, que junto com José Wilson e Lucas, são os autores de Você Não Me Ensinou a Te Esquecer, da trilha sonora de Lisbela e o Prisioneiro. Mais recentemente o baiano gravou Moça de Wando, o papa da categoria e grande (talvez o maior) sucesso do arremessador de calcinhas. E a música, em sua nova roupagem, caiu de novo na boca do povo.
         Em resumo, não existem músicas ou intérpretes bregas. Existem críticos bregas e ouvintes preconceituosos, que criam rótulos para nominarem aquilo de que não gostam ou entendem. Qualquer compositor rotulado como brega ou trash, na voz de Caetano passa a ser cult. Foi assim também com Claudinho e Buchecha, que viraram cult na voz de Adriana Calcanhoto.
         Eu sugeriria ao Caetano, que possui esse mágico poder de desfazer rótulos, gravar um CD inteirinho com músicas de Waldick Soriano (Euripedes Valdick Soriano para quem não conhece, já transformado em ícone através do documentário de Patricia Pilar), para homenagear o conterrâneo da Bahia já falecido, e calaria de vez a boca dos preconceituosos.
         Salve o Mano Caetano! E toda a legião de românticos"bregas", enfim redescobertos e prestigiados!

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